Homenagem do Vereador Carlos Pereira ao Centenário de Gaiaku Luíza

Discurso proferido pelo vereador Carlos Pereira na Câmara de Vereadores em homenagem ao Centenário de Nascimento de Gaiku Luiza, transcorrido no dia 4 de agosto do ano em curso.

DISCURSO:


Nascida em 25 de agosto de 1909, a sacerdotisa, do candomblé Luiza Franquelina da Rocha, a Gaiaku Luiza, se estivesse viva estaria completando, amanhã, 100 anos. Fundadora do único terreiro de Cachoeira reconhecido como patrimônio cultural pelo Instituto do Patrimônio Cultural da Bahia (IPAC), em 2006, essa valorosa mulher, ao longo da sua existência, lutou muito para preservar a religião dos ancestrais africanos.

Soube honrar com muita generosidade e sabedoria, o posto de Gaiaku que corresponde ao cargo de Yalorixá no candomblé. Gaiaku Luiza que nos deixou em 2005 construiu uma vida espiritual respeitada em todos os cantos do mundo. Na sua pequena casa no Alto da Levada, onde reinou soberana durante quase seis décadas, acolhia com amor e carinho pessoas de todas as camadas sociais. Procurada por intelectuais, pesquisadores, jornalistas, pessoas simples do povo, recebia-os sem distinção de classe, com igual atenção. Sua trajetória na terra foi registrada em documentários, livros, reportagens, mas o seu grande legado é a fé o respeito às coisas sagradas para os afrodescendentes.
 Para marcar o Centenário de nascimento de Gaiaku Luiza, filhos e filhas de santo do terreiro Humpame Ayono Runtoloji, fundando por ela há quase seis décadas, no Alto da Levada, em Cachoeira, organizaram uma programação especial que inclui celebração de missa, às 9h, seguida de homenagens póstumas com pronunciamentos. Haverá, ainda, exibição de vídeos sobre a sua vida e inauguração no próprio terreiro do busto da fundadora do Humpame Ayono Runtoloji. Às 12h, será servido um almoço de confraternização para todos os convidados.

Em seu livro Gaiaku Luiza e a Trajetória do Jeje-Mahi na Bahia, o autor Marcos Carvalho narra que Luiza Franquelina da Rocha nasceu em 25 de agosto de 1909, em Cachoeira, cidade do Recôncavo Baiano. Sua mãe chamava-se Cecília, negra, descendente de escravos e iniciada para Yemanjá em Feira de Santana , vindo a falecer com 105 anos. Seu pai chamava Miguel, negro, também descendente de escravos e foi confirmado pejigã na Roça de Ventura , candomblé jeje em Cachoeira, por Gaiaku Maria Ogorensì de Béssen.

Ainda de acordo com Marcos Carvalho, Gaiaku Luiza que era bisneta de africano e foi nascida e criada dentro do candomblé aonde chegou a morar na Roça de Ventura. Teve contato com as velhas tias do candomblé que lhe ensinaram muita coisa. Em 1937 Gaiaku Luiza é iniciada para Oyá na nação ketu, do famoso Babalorixá Manoel Cerqueira de Amorim, mais conhecido como Nezinho do Portão, filho-de-santo de Mãe Menininha do Gantois. Por motivos particulares, após dois anos, Gaiaku Luiza se afasta da Roça deste ilustre Babalorixá.

Foi Sinhá Abali, segunda Gaiaku a governar a Roça de Ventura, quem viu que Gaiaku Luiza deveria ser iniciada no jeje, nação de toda sua família, e não no Ketu. Assim, encarrega sua irmã-de-santo Pussussi Rumaninha, de sua inteira confiança, a iniciar Gaiaku Luiza no Terreiro do Bogun, em Salvador. Em 1944 Gaiaku Luiza é iniciada na nação jeje sendo a terceira a compor um barco de três vudunce. Seu barco foi constituído por uma Oxum, um Azansú e uma Oyá.

O Centenário de nascimento desta extraordinária religiosa cachoeirana não poderia ficar sem registro nesta Egrégia Casa. Portanto nossas reverências respeitosas à sua memória e que a sua sucessora a Gaiaku Regina, seja iluminada pela sabedoria ancestral dê continuidade por muitos anos à missão da saudosa Gaiaku Luiza.